A melhora na oferta de energia elétrica nos últimos anos não pode ser considerada suficiente para evitar que novos apagões ocorram no país e no Estado, como o que aconteceu na terça-feira (11) à noite, em vários municípios capixabas. O risco de ocorrência de racionamento, em 2014, seria hoje de 17,5%, conforme estudo elaborado pela consultoria PSR.
Problema como o ocorrido terça-feira no Espírito Santo não está ligado diretamente à oferta de energia abaixo da demanda. Mas mostra que questões estruturais são mais sérias do que afirma o governo federal.
A elaboração do estudo da PSR, segundo o diretor da empresa, Jorge Trinkenreich, leva em conta a previsão de chuvas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para o mês de fevereiro e cortes acima de 4% da carga.
Na avaliação dos consultores da PSR, diferentemente do que afirma o governo federal, os problemas energéticos atuais não estão relacionados com questões conjunturais, como a falta de chuva para este período e o aumento no consumo de energia devido ao calor acima da média.
Trinkenreich explica que os problemas estão relacionados às “deficiências estruturais na capacidade do suprimento do sistema”. O risco de 5% para o sistema, segundo ele, é alto em termos de planejamento energético.
Este índice faz parte da margem de segurança, isto é, o sistema precisa operar com 5% a mais do que a demanda máxima de energia. Em janeiro, operou com 4,2%, conforme dados da consultoria.
Confiabilidade
A confiança no sistema está abalada por causa do atraso em várias obras de hidrelétricas, como Jirau, Santa Antônio e Belo Monte, além de vários projetos de termelétricas que não saíram do papel. “No ano passado, o volume de energia gerada e oferecida foi 66% menor que o previsto”, explica o diretor da PSR.
A palavra chave agora, segundo Trinkenreich, é monitoramento. “Para evitar o racionamento será preciso contar com o clima, para que as chuvas venham para as regiões que realmente precisam, e manter o sistema monitorado constantemente. Só assim será possível evitar novos blecautes, apagões ou racionamento”.
Falta luz e sobram entraves
1 – Problema nas obras
É apontado como um ponto importante no atraso para a entrega de projetos novos de geração de energia hidrelétrica. Este é o caso da Usina de Santo Antônio, em construção no Rio Madeira, em Rondônia, e que deverá ter 50 turbinas com capacidade de geral total de 3.580 MW. Um segundo projeto, a Usina de Jirau, também em Rondônia e que faz parte do complexo do Rio Madeira, está atrasada e vai gerar 3.750 MW no total. Uma das turbinas, são 50 no total, entrou em operação no ano passado.
2 – Falhas nas linhas de transmissão
Fazem parte dos problemas estruturais sérios relacionados pelos especialistas no setor. Demora na implantação de novas linhas de transmissão agravam a situação, como é o caso de uma usina eólica pronta para funcionar, no Nordeste, mas que está desligada porque não há linha de transmissão para levar a energia da usina até os centros consumidores.
3 – Margem de segurança
Para entregar a energia de uma forma que, se houver algum problema, o sistema não seja afetado. Este é outro problema detectado no sistema energético do país.
4 – Falta de chuva
Considerado um período úmido e de chuvas em bom nível, os meses de janeiro e fevereiro estão registrando baixíssimos índices de chuva, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem pela maior parte do consumo de energia no país. No ano passado, houve problemas de chuvas que levaram a um aumento de 48,1% na geração de energia pelas usinas termelétricas, movidas a óleo combustível e gás.
5 – Aumento no consumo
Um dos verões mais quentes dos últimos anos também está contribuindo para deixar claro que o país precisará investir muito mais na geração. Com os reservatórios abaixo dos índices normais para esta época do ano, a possibilidade de racionamento já é aventada. Considerando todas as fontes de geração de energia do país, houve aumento de 3% em 2013, em relação ao ano anterior, passando para 61.323 MW médios. Em 2012, o Brasil encerrou o ano com 123.973 megawatts (MW) de capacidade instalada em operação comercial, provenientes de 1.064 usinas de geração de energia.